sábado, 31 de julho de 2010

Insano autismo

Meu corpo, de gozar-te, anda esquivo.
Meus olhos andam cansados de te ver!
Pois que não és a razão do meu viver
E muito menos és toda minha vida.

Não vejo nada assim, aborrecido...
Ando no mundo, minha querida, a ver
Um jeito misterioso de tornar-te livro
De mesma história tantas vezes lida.

No mundo tudo é chato, me desgraço
dizendo muito isto, e tudo o que faço
é pra reprimir tua boca falando a pino.

De, olhos postos em ti, me encolerizo.
Ah! mas nada do que faço daqui te afasta.
Acho que o melhor é tentar logo o suicídio.



quarta-feira, 21 de julho de 2010

Depressão do Poema

Este silêncio de capa é

Como o morrer abafado:

Dividido entre o viver

E o matar-me, persigo:

A estranheza de uma

Dor que metálica, se fria;

O erguer-me instável,

Que é afeição de esgrima.


Este dizer de letra é como

Um sentar-me espetado.

Circunscrito na natureza

morna da cidade frívola,

Contorno os mil utensílios

quem em mim desabam:

Sons de rima, que aguados,

E lascas de ordem de estima.


Na estante de chão e quarto

Desfaleço-me emblema:

Sou o quadrante a pensar

O mais que pensar, como

A sentir o mais que sentir:

Porque tudo é aborrecimento.


Então é como um penar o mais

Que penar, porque de pedra: um

Ficar redondo e elíptico, por fora,

Mas elástico e com zíper, por dentro.

domingo, 11 de julho de 2010

Das formas do erro

Quem pariu Mateus que se balance! Pior pra Deus que, de lá pra cá, quantos Mateus não tem parido? E esse Deus, de tanto balanço, tem deixado o homem entre a morte e a vida. Esse é mais um equívoco da criação divina!

sábado, 3 de julho de 2010

Um Rôubo


File:Manet, Edouard - At the Café, 1878.jpg

Se teu corpo excede pêlos

Pelos teus vales me perderei.

Se teu corpo perde o jogo

Até teu gozo eu já roubei.

Se teu corpo pede alma

É que nada te adiantou fugir.

E se minha pele perde o jogo

A culpa é do fogo do teu corpo

Que não me deixou resistir.