sábado, 8 de maio de 2010

À Mercê Mercedes

Só os lunáticos sabiam

Só, o cabide é tão triste

Sozinho o rádio insiste

O chip me desavisa.


A cara tinha detalhes

A cor era anilina

Meu peito cheio de talhes

A solidão me incrimina.


Cuspi no ar a saudade

O Arco-íris que lindo!

Aceito a novidade

A carta não sei se assino.


Comprar, vender

A alma...

Falar a mercê.

Mercedes casar

A alma...

Surrar-me em você.


Contorno a face do corte

A inabitável resina

Sentindo pratico esporte

Prostituo a cafetina.


Teclei o risco no muro

Comprei o afeto num sarro

Nadei no fundo futuro

Meu saco não é de barro.


Só que esta febre que queima

É peste de um outro tempo

Um tempo em que o invento

Tomava uma com a gente

E o vento naquele tempo

Era tão quente e sonoro!

No estouro de uma língua morta

Surge o meu ré-pensamento.

Conversa Paralela - a última

Não dará mais nem um pio depois daquela de ontem,...
Viu como sou potente? muito mais potente que você.
Isso é porque eu sinto, você não. Eu sinto, sinto, sinto e você não.

E você não passa de uma puta de uma lucidez fudida.

uma puta de uma lucidez fudida!

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Conversa Paralela - a quarta - a penúltima

Aquela velhinha, você queria a velhinha,...

- Eu queria ajudá-la, cuidar dela., sabe?

Você? Você teve pena dela? Nãooooouuuuu, você não.

- Nãonãonão naum. Não foi pena,. Foi carinho, ternura,. um tipo qualquer de esperança ou de agonia.

(cuidem dos velhinhos! das criancinhas não! será pedofilia! Cuidem dos velhinhos!)

Você tem que cuidar é de si mesmo. Você não cuida.!!! Ora ora, filhinho! Você queria a velhinha! Vi que queria.

- Eu queria a velhinha. cuidar dela. Dar banho, contar historinhas para ela durmir tranquila. para ela durmir morrer e continuar viva, sempre viva. Preciso muito disso. Me ajude, por favor. Me ajude a ganhar a velhinha!

Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhh. Foda-se! Você e a puta pedofilia!


quinta-feira, 6 de maio de 2010

Conversa Paralela - a terceira

Está vendo aquele moço ali? Do outro lado da vida,...?

Ele mesmo. Não deveria ser você?

(confundi-me com ele. eu, que penso).

Repare nele! Talvez você aprenda alguma coisa.

- Ahhhhhhhh! Foda-se!

Você precisa pôr controle nesta sua imaginaçãozinha e fazer tudo de forma menos desleixada. Precisa pôr controle. Porque, senão, terá sempre essa mesma dor de cabeça e essa vontade louca de esvaziar o nada. e ter no nada a sua vida.

Veja-o! Aprenda alguma coisa. Você precisa.
Sinceramente, acho que não aprenderá nada. nunca.
e este seu amor às causas perdidas? é o que te condena! tá vendo?

Tudo bem que "a comunhão acontece em silêncio" (o teu silêncio é valioso) e que este beijo que te inspira é, além de tudo, um risco muito grave. Entendo.

- "Um beijo no qual existe uma ameaça".

Sim, sim, sim. Claro. Mas não uma; todas.

- O que farei então? Oh, como sou confuso e irritante!

Precisa fazer alguma coisa. Se não fizer, não aprenderá nada. nunca.

- Ahhhhhhhh! Foda-se!

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Conversa Paralela - a segunda

Não entendi aquele último sonho. E logo no findar da noite.

hahahmmmmmm.................. Seu Danadinho!!!....

Dizes que fumas só quando bebes. Mas estás sempre a beber.

E quanto ao amor?
Vês o amor como uma irradiação, não é?
Uma irradiação incalculada das potências do coraçãozinho no cérebro e das inadequações do cerebrozinho no coração de pedra. O teu?
Mas, e quanto ao amor? Dize. Amas?
Sei que amas. Amas sim. Calado, sem coragem de dizer e de agir por conta própria. Sem coragem para irradiar coisa alguma fora de ti mesmo. Como um beijo, que necessitas roubar antes que passe o tempo.
E sofres tanto, não é, menino?
Aquelas "Cartas a um jovem poeta", de Rilke, tu andavas a lê-las. Quão mal fizeram a ti.
Já eras medroso. então, com aqueles conselhos maldosos, tornou-te afundado demais em ti mesmo. e na solidão e nas nuvens....

O silêncio é o teu esporte favorito. e tens tesão nisso.
Tu, que sempre foste movido pelo corpo, tens tesão nisso?
Claro que tens. Compreendo-te. Tens tesão por livros. Tens tesão por teus amigos (o que é uma loucura e um risco) e tens tesão por cigarros e até pela vida,..... E a tua?

Ora, vamos. Irradiemos alguma coisa. Diga a tudo e a ele memo: "Irradio-te".

terça-feira, 4 de maio de 2010

Conversa Paralela

Tão triste vais te deitar?
Em pleno meio-dia? Vais rezar, eu sei. E depois sonhar-te nas nuvens. Claro! Não trabalhas? Tens Twitter. Ou o teu negócio é sempre o ócio?
Olhe, que um dia as nuvens te põem perdido. E aí não darás mais pé a nada e nem a ti mesmo.

Vi que pensas falando alto.
E pensas que nada é possível ser sentido senão de forma mística.
Mas, no entanto, não crês em Deus, não é? Tu o disse.
E crês no diabo e em vampiros e crês no inferno e na morte.
Trágica morte será a minha. Eu te disse. E a tua?

"de guarda-chuva" ela te espera,
"lúcida e fria".

E crês na possibilidade do mal e do bem como um jogo a ser bem bolado. E a ser vencido. Mas, por quem? Por ti?
É que tu também ignoras que o mal está no bem e no bem a ser feito a qualquer outro e até a ti mesmo. Ignoras que o bem é apenas um modo do mal mostrar-se menos maldoso. Ignoras também isso?

Oh! e Dizes tanto das pedrinhas cristalinas!
E esta outra pedrinha que tu me atiraste? Éééé, ela é sem cor e sem graça e sem transparência. Por isso pedra.
É uma pedrinha tão tosca, tadinha, que de pedrinha a pedrinha nunca passaria.
e nada comunicaria a esse peito seu, ainda de pedra. Mais tosco. Mas, partido.

Só que a terra e a rua conhecem as pedras melhor que a mística. e a mística, se existisse como tu infalivelmente existe, teria no bem que a pedra faz à terra e à rua o mal que as nuvens fazem aos céus e aos dias. Embaça a vista, sabe? tu sabes. São tuas estas vistas.

A forma e o conteúdo conjugados da vida

Há quem vê a vida como uma comédia, diz-se dos que a pensam; há, também, quem vê a vida como uma tragédia, os que a sentem. Eu, como não gosto de reduzir nada a muito pouco e como sempre busco conjugar todas as idéias em uma unidade coerente, porém, híbrida de elementos determinativos, compreendo a vida como, ao mesmo tempo, uma comédia e uma tragédia. Porém, essa compreensão não se estabelece simplesmente a partir de meu olhar sobre a vida, mas sim a partir do modo com que a vida se me apresenta. Tenho, pois, o homem e a sua fatal condição imanente como o centro dessa compreensão. Assim, recordando-me da forma com que Machado de Assis mostra em seus textos o processo cíclico de perdas e ganhos do homem ao longo de sua história, chego à conclusão de que a vida é um eterno iludir-se para desiludir-se e tornar-se a se iludir...

É nesse sentido que a vida será uma tragédia e uma comédia conjugadas.

Há quem observa os homens e percebe o quanto estão aí iludidos, acreditando que são felizes, quando tudo não passa de uma farsa construída pelo sistema ideológico em que vivem, sistema apegado ao otimismo progressista. Esse que vê, de fora, acredita que, diferentemente do outro, é livre. Não se ilude com o sistema e, por isso, não depende das mentiras que o mundo conta para aliviar as suas dores de viver. Imbuídos de um pessimismo inconsciente veem a vida como uma desilusão somente. A experiência humana, toda ela é fracassada. Todo viver é doloroso. Mais vale a morte; fim completo de toda a ilusão.

Os jovens propagadores da cultura Emo, hoje, carregam esse legado da vida fracassada, da vida prática como exercício de uma desilusão. São os homens desiludidos.

O que esses pobres não conseguem ver é que até essa eterna desilusão não passa também de uma ilusão. Todo olhar desligado do modo de representação do próprio ato de ver é ilusório.

Assim, a vida será, mais que qualquer coisa, esse processo trágico, porém, lúdico e cômico, de representação da ilusão que nos engana e da desilusão que nos detona. Mas o importante mesmo é não dar ouvidos a essas baboseiras todas. O importante é ter paixão pelo que, independente de trágico ou cômico, é a vida. A vida na sua intensidade mais ardente.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Encontro mal marcado

Foi marcado um encontro entre o cachorro e o osso. Só que esqueceram de avisar ao osso que o cachorro andava sem fome e que por isso, certamente, o cachorro o enterraria em alguma cova bem funda, pois a falta de fome persistiria como um engano. E o osso, coitado, acabou por ser comido por vermes, pois foi marcado um novo encontro, dessa vez entre o cachorro e a ração. Só que esqueceram de avisar ao cachorro que a ração nunca dá aquela satisfação completa. E o cachorro, coitado, acabou por ser comido pela ilusão de uma vida inteira.

sábado, 1 de maio de 2010

testemunho de um afetado

Disseram de mim
o que não pode ser dito de ninguém
em nenhuma parte do globo.

Disseram de mim:

"preferem (os delicados) morrer"

E o dito era um mau agouro.
Antigamente
quando maio era um mês à parte
o ano tinha um participação mais lúdica e inconsciente em minhas ressalvas, em minhas manias e em minhas instabilidades.

Agora, maio é um só mais um mês
e como dói.

"Eu tenho mais de vinte anos"

Hoje, ouvindo e vendo um show de Elis Regina, gravado em DVD e comercializado em uma coleção especial, fui da crise sexual-amorosa que me atormentava, há dias, a uma crise existencial tremenda, motivada pelo aterrorizante verso “eu tenho mais de vinte anos”, da música “20 anos Blues”.
Nesse verso, descobri não só o peso de se ter vinte anos, mas o de se ter, precisamente, vinte e dois anos e meio.
Isso é tudo o que tenho, além de algum dinheiro emprestado, uns poemas escondidos, uma família que também é dos outros e um curso superior pela metade.
E é difícil, sim, aceitar este fato: “Eu tenho mais de vinte anos”, pra ser preciso: Eu tenho vinte e dois anos e meio.
É difícil porque de repente nos encontramos na posição em que, há pouco tempo atrás, estavam aqueles que mais odiávamos, os jovens crescidos. É belo ser jovem, ser crescido?.........................................!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!.....................................................
.............................................Sinceramente, não gostei da experiência com a adultez. Como Rimbaud, odeio o mundo do trabalho, da produção em massa. Como Rimbaud, odeio a vida prática que, hoje, Rimbaud odiaria mais ainda.
Acho que é por isso que gosto tanto de tudo o que tem a ver com arte, principalmente, gosto muito de artistas.
Tenho sim, e assumo, um insistente interesse pelas pessoas que andam movimentando alguma coisa que seja música, pintura, teatro e, às vezes, até dança. E sempre, em meus sonhos, aparecem os artistas. Neles, estamos, eu e um alguém, com a mais pura arte do mundo, ora andando por aí, ora parados por aqui, a brincar com a idéia do amor, e motivados, sobretudo, por um desejo e por um prazer absurdamente estético.
Acho também que esse interesse maluco tem a ver com o que neles, nos homens da arte, há de insólito e superior aos homens vulgares: os artistas são, ao mesmo tempo, demasiadamente jovens e demasiadamente maduros. Vejo o artista como o sujeito que consegue tratar de assuntos adultos com toda a adolescência da expressão e do modo totalmente atrevido e rebelde que trazem.
É por isso que meu intuito é andar sempre rodeado por gentes de arte. E não vai importar se serão 22 e meio, ou 41 e meio, ou 61 e meio a minha idade, serei mesmo um jovem que não cresceu e que morrerá ainda jovem.