Se Clódia desprezou Catulo
E teve Rufus, Quintius, Gelius
Inacius e Ravidus
Tu podes muito bem, Dionísio,
Ter mais cinco mulheres
E desprezar Ariana
Que é centelha e âncora
Hilda Hilst.
I
Me chama pelo nome
Presta a mim esta homenagem
Me despe e me fita
Depois me torne o que disseste
À vida quando nascente
Inconscientemente para a vida.
II
Eu queria ser teu corpo
E o envolvimento que ele tem
Com os poemas que na noite
Te fazem gemer e até te gemem.
Eu queria ser teu órgão
Qualquer órgão e o esqueleto
Pra bater ou te pulsar tão longo
Pra te ser interno como teu sentimento.
Eu queria ser teu signo
E o temperamento que dele
Conduz o teu, eu queria te guiar
Na montanha firme, ou no corredor do rio,
E te avistar em mim, dentro do meu.
III
O mundo gira, Carolina,
Porque meu corpo te concebeu
E tão cedo ou tarde sendo
Saberás que o dia amanheceu
E que com o dia só briga quem
Na noite te esqueceu.
Eu sou a moça, Carolina,
E tu és a menina
Meus sonhos sonham a ti
E os teus um dia, porque na noite,
Sonharão como os meus
No escuro.
IV
É que recusas mais meu corpo
Que meu amor.
E por isso sofro
Como a faca e a fatia do queijo
Que tua faca não tocou.
V
Saiu brando pela porta afora
Me deixou gavetas escancaradas
E documentos espalhados pela
Casa cômoda como se fossem
No lixo do banheiro o banho
E no vaso as camisinhas gozadas
E no chão o chão e as paredes ligadas
À mesa e o aparelho de som ligado
Tudo embaralhado de tanto susto e
O computador com dedos
E o lençol molhado de lágrimas
E o dicionário Aurélio aberto
Justamente na página 184
Onde se inaugura o uso da palavra
Coobrigado.