quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Desolo
sábado, 14 de agosto de 2010
A política dos corpos ou um poema neobarroco
A Késia Tavares
A curvatura frontispicial
Do meu corpo,
Aqui e Agora, num
Encaixe instantâneo com
A curvatura traseira de
Teus modos.
A substância incorpórea
Do medo me empresta a nós
Na matéria instável do desejo.
Somos em riste a mola
Do acontecimento, a mola
Que sustenta e elabora
Os desígnios do encaixe.
A física dos dedos
Na leveza do impróprio:
Política dos corpos.
Agora a dobradura das pernas:
Dobras na dor são redobras
No prazer de cair-se inerte.
A inclinadura dos âmbitos:
Instamo-nos dispostos ao vento,
Que momentâneo, é puro gozo.
E uma força elástica tange-nos
Ao fundo da pele, e revira-nos
O fundo cavernoso do dentro,
Onde o improvável dos sonhos
É mechido e remechido até que
Tornado irremediavelmente incerto.
E de repente temos a vida
Toda em larvas como que
Grossas e clara como que
Branca, no dentro e no fora.
E morreria teu corpo se
Não se dispusesse ao meu.
E morreríamos dispersos no
Andar de cima: que Abaixo de
Deus. Mas morremos ainda se
Grudados e drapeados um na
Largadura do outro e incertos
De tão vertiginosos e mortos
De tão vivos, como que imersos
No infinito afável do todo.
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Oh! Vaca Profana, me vê!
Oh! Vaca Profana,
Me vÊ! E vê
Que sou o bagre.
Eu sou a suspensão do ar na água suja que te invade!
Oh! Vaca e Profana,
Vê que eu sou o bagre nadando raso
Eu sou,
na espessura do riacho,
o soluço de um abutre
A cantar, o abutre a cantar,
A cantar
Um abutre
regado a suor
Oh! Vaca Profana,
Não vÊ?
Eu sou o resto da fome de estrume
Eu sou a necessidade no estômago vazio de um cavalo com fome
E sou, Oh! Vaca Profana, o grunhir da vontade de um pouco mais
Da vontade de gastar mais deste nosso canto
De gastar mais dessa oração, que é sua
É sua, Vaca Profana
De gastar mais um pouco
De gastar mais um muito
De gastar mais o todo
De gastar mais o tudo
De gastar a cera de seu ouvido, Vaca Profana
De gastar essa saliva amarga que me compõe
Essa saliva que compõe
Eu sou o bagre, eu sou o estrume na cloaca cancerosa do bagre
Eu sou, Vaca Profana, a sua promessa de recusa
De recusa ao sagrado lume do fundo
Porque sou o resto do resto do estrume na superfície da falta.