quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Desolo


Na película renosa da tarde em desacordo com a noite, circunstancial como a lua que agora é cheia, entrevejo um futuro calmo e brando para entornar a fissura mais que tênue de minha vida, para entorná-la e lançá-la ruidosa ao canto mais apático e resumido de uma cidade que se quer pode ser chamada de cidade, talvez vila, mas no Brasil não existem vilas; existe é um lugar ao sol pra qualquer um.
Como serei eu ao sol, já que esta lua me compõe tão absurdamente vivo, tão latente em meu sobrar?
Como eclipsar em mim esta lua que me compõem com este sol que me resta tão imperfeito?
Mais uma vez as membranas intercaladas de um tecido nervosamente instigado à sina choca em meu peito instável como uma galinha choca o derradeiro ovo. E já pula de medo o meu coração; chora de fome o desconhecido que agora aparece impossibilitado à minha rédea sempre solta; os cabelos até do púbis ficam brancos; e a calvice das mãos emparelha-se ao jeans roto da calça nova. E não há a novidade no por vir., há talvez um por vir que simplesmente é retorno ou um desvanecimento do que um dia foi, mas que agora é sem coragem. e há a estranha lacuna da vida nunca preenchida nos ossos armados de dor; há a falta saliente de mim mesmo, como um remorso de tiro nunca dado, como a fibra rugosa do ouvido que mesmo a ouvir é surdo.

Um comentário:

  1. cada dia, cada instante idos tornam-te mais maduro com as palavras, mais charmosamente erudito... não de uma erudição retilínea e morna, mas daquela que não pede licença e se mistura às tortuosas unções sentimentais e sensuais... um modernista? nem tanto. Um gênio, sim! Impecável!

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