domingo, 12 de setembro de 2010

Contranotas do sobressolo


Por essa época, o seu sítio era o vigésimo segundo andar de um edifício erguido sobre a porta dos fundos. Ele entrara ali; e só foi saber disso quando já não havia mais portas e nem janelas ou qualquer outro orifício por onde descambasse o mundo. A sua idade: o vigésimo segundo andar de um prédio cuidadosamente projetado para nunca atingir a possibilidade do céu a pino (como isso é matemático, não?). Ele observava a vida desde a primeira sala, no roçar do corredor, até a indumentária da pia com vaso do banheiro distinto. E se desesperava, porque sabia que nada o distanciaria tanto da falta de gravidade de seus sonhos menos insuspeitos. Mas era a ignorância quanto ao andar seguinte o que mais o atormentava, o que mais o comprimia contra a escada sem degraus explícitos, contra a entrada que ligava o já construído ao em construção, e tanto à custa de sua impaciência elétrica. Oh, meu Deus, meu Deus! Como suportar a ideia de que somente um terço do edifício inteiro foi erigido, sendo que tudo o que ele representa é esta necessidade de altura seguinte? Ele pensava que talvez fosse tudo quadrado; mas sabia que a parte de baixo, o seu subsolo, era o único chão de que dispunha e que o restar de tudo no lado A da parede de fora era só o resfolhar da sua mente a concluir distrações. E não há o que contar sobre a vida de Sílvio. Há a reflexão de um edifício que existe porque o concebo se ainda tenho esta concessão.


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