terça-feira, 3 de agosto de 2010

Oh! Vaca Profana, me vê!


Oh! Vaca Profana,

Me vÊ! E vê

Que sou o bagre.

Eu sou a suspensão do ar na água suja que te invade!

Oh! Vaca e Profana,

Vê que eu sou o bagre nadando raso

Eu sou,

na espessura do riacho,

o soluço de um abutre

A cantar, o abutre a cantar,

A cantar

Um abutre

regado a suor

Oh! Vaca Profana,

Não vÊ?

Eu sou o resto da fome de estrume

Eu sou a necessidade no estômago vazio de um cavalo com fome

E sou, Oh! Vaca Profana, o grunhir da vontade de um pouco mais

Da vontade de gastar mais deste nosso canto

De gastar mais dessa oração, que é sua

É sua, Vaca Profana

De gastar mais um pouco

De gastar mais um muito

De gastar mais o todo

De gastar mais o tudo

De gastar a cera de seu ouvido, Vaca Profana

De gastar essa saliva amarga que me compõe

Essa saliva que compõe

Eu sou o bagre, eu sou o estrume na cloaca cancerosa do bagre

Eu sou, Vaca Profana, a sua promessa de recusa

De recusa ao sagrado lume do fundo

Porque sou o resto do resto do estrume na superfície da falta.

Um comentário:

  1. Uau... excelente, dedico essa leitura à minha vaca profana, que me largou no pleno gozo da minha cólera ( que tive por ela ).

    L. Figueiredo

    ResponderExcluir